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Pombal: Externato Liceal de Albergaria dos Doze contesta corte de turmas

6 de Julho 2018

A redução de uma turma de 7.º ano no próximo ano lectivo no Externato Liceal de Albergaria dos Doze vai deixar 26 alunos de fora, que terão de encontrar uma nova escola. Os estabelecimentos de ensino da cidade de Pombal, que fica a mais de 15 quilómetros de distância, são os mais próximos, contudo não têm vagas. A alternativa é a escola da Guia que fica a cerca de 40 quilómetros de distância. A direcção do Externato já pediu esclarecimentos à DGEST e à secretária de Estado da Educação. Os pais contestam o corte de turmas, acusando o Governo de “promover a desertificação”.

A notícia foi recebida com surpresa em meados de Junho: uma turma de 7.º ano do Externato Liceal de Albergaria dos Doze não terá financiamento do Estado no próximo ano lectivo. A situação coloca em causa o destino de 26 alunos residentes na União de Freguesias de Santiago e São Simão de Litém e Albergaria do Doze, mas também nas proximidades já nos concelhos de Leiria e Ourém (distrito de Santarém).

“Pediram a renovação de matrícula para o 7.º ano 54 alunos, como só nos atribuem uma turma que pode ter no máximo 28 alunos, há 26 que estão de fora”, referiu ao TERRAS DE SICÓ o director do Externato Liceal de Albergaria dos Doze, António do Carmo Costa, adiantando que “ainda não sabemos o destino desses 26 alunos, teoricamente, de acordo com a lei, deviam ir para a escola pública mais próxima, mas a escola pública mais perto está em Pombal, a mais de 15 quilómetros de distância”.

“O Externato de Albergaria dos Doze sempre recebeu alunos de toda a área envolvente, que inclui alunos da União de Freguesias, mas também de outras freguesias do concelho e de concelhos limítrofes, até de fora do distrito”, explicou António do Carmo Costa, esclarecendo que uma vez que aquele estabelecimento de ensino se situa no limite do concelho de Pombal e do distrito de Leiria, a sua área de influência inclui a União de Freguesias e Vila Cã (Pombal), assim como de algumas localidades dos concelhos de Leiria e de Ourém.

“Os alunos que temos no Externato são todos da área de influência”, tal como define a legislação, realçou o director, salientando que “não compreendemos o critério de criação da área de implantação” na portaria sobre as regras e procedimentos aplicáveis à atribuição de apoio financeiro pelo Estado a estabelecimentos de ensino particular e cooperativo. “Há uma interpretação diferente, a lei fala em área de influência e a portaria fala em área de implantação” que, neste caso abrange apenas a União das Freguesias, Vila Cã e Abiul. “Contudo os alunos de Abiul nem sequer vêm para Albergaria dos Doze, porque nem sequer têm transportes”.

“Esta vai ser a quarta turma que o Externato perde desde que o Governo começou a cortar nos contratos de associação”, lamenta António do Carmo Costa, enaltecendo que a escola que dirige “tem contrato de associação há 40 anos, ou seja, desde o primeiro ano de contratos de associação, em 1978”. “Até agora o Externato perdeu muito poucos alunos, mas a concretizar-se o encerramento de uma turma de 7.º ano, no próximo ano lectivo haverá uma redução significativa de alunos”, referiu, adiantando que em 2017/2018 o Externato tinha 210 estudantes.

Com vista a evitar o corte de uma turma de 7.º ano no Externato, tanto a direcção como os encarregados de educação estão em luta. “Ainda estamos a analisar a situação, mas os pais já fizeram várias reuniões e contactos com representantes das autarquias e da nossa parte já expusemos a situação à DGEST de Coimbra e à secretária de Estado da Educação”, adiantou o director do Externato, que espera manter as duas turmas do 7.º ano no próximo ano lectivo .

 

“Resultados desastrosos”

“A notícia de só existir uma turma de 7.º ano tem vindo a ser assimilada aos poucos”, lamenta Carla Marques, encarregada de educação de uma aluna que transitou para o 7.º ano, mas que a pouco mais de dois meses e meio do início do próximo ano lectivo ainda não sabe se a filha terá lugar no Externato Liceal de Albergaria dos Doze, que fica apenas a 800 metros da sua residência.

O corte de uma turma de 7.º ano obriga 26 alunos a procurarem outra escola, provocando “resultados desastrosos para a vida das crianças, da instituição que é o Externato de Albergaria dos Doze com todos os compromissos com professores e demais trabalhadores, bem como para a nossa comunidade”.

Caso se concretize a atribuição de apenas uma turma de 7.º ano, muitos alunos poderão ter de ir para a Escola da Guia, que fica a cerca de 40 quilómetros de distância. “A minha filha, que reside a 800 metros da sua escola”, poderá ser obrigada a procurar outro local para prosseguir os estudos, mas onde? “O agrupamento a que pertence não tem vagas e a outra escola pública em Pombal também não tem vagas”, acusa, constatando que “a solução será a escola da Guia, que deve ficar a uns 40 quilómetros de distância”.

“Como é possível os senhores das leis criarem despachos sem terem a mínina noção da realidade”, questiona Carla Marques, interrogando se “existem critérios pensados” por quem “supostamente nos defende e gere o nosso país”. Afinal, “estas decisões, tão bem pensadas lá, estão a destruir a nossa realidade cá”, pois desta forma Albergaria dos Doze e as localidades em redor ficarão “desertas, porque estas medidas só podem promover a desertificação”.

“Albergaria vai cada vez mais morrendo aos poucos”, teme aquela encarregada de educação, deixando o apelo: “não pudemos ficar braços cruzados”. E não têm ficado. Desde que tiveram conhecimento da intenção do Governo, os pais já fizeram várias reuniões e contactos com representantes das autarquias e prometem continuar em luta para que os seus filhos possam continuar a estudar na escola que já foi frequentada por muitos pais e avós dos actuais alunos.

 

“Existem crianças”

“Nos últimos anos o Externato Liceal Albergaria dos Doze tem vindo a perder turmas pelo motivo errado”, denunciou no Facebook Susana Jesus, professora daquele estabelecimento, salientando que “existem crianças para frequentar as turmas, mas os ‘senhores’ que mandam decidem não permitir a abertura das mesmas por, supostamente, haver vagas nas escolas públicas mais próximas”.

“A verdade é que não existem vagas, os filhos da terra, que estão a ser impedidos de frequentar a escola que em muitos casos os pais e até os avós frequentaram, não têm vaga nas escolas mais próximas”, continua a docente, defendendo que “está na hora de nos unirmos, pais, professores, alunos e comunidade”.

“Esta Albergaria vai morrer se não fizermos nada”, considera Susana Jesus, acreditando que “os pais vão embora porque têm de acompanhar os filhos e tudo o que ainda faz mexer esta terra a nível comercial vai deixar de existir”.

“Não nos acomodemos e lutemos pelos nossos direitos enquanto pais e enquanto cidadãos de uma terra que está ameaçada de perder ainda mais população”, apela a professora.

CARINA GONÇALVES


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