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Cândido Pereira

O rio do Cais

18 de Maio 2018

Por causa de uma fotografia antiga que um Amigo colocou no facebook, desencadeou-se uma série de comentários ao facto de o Rio do Cais não levar água. Enfim, não era novidade nenhuma para as gentes de Condeixa ele estar seco. Mas isso só acontecia no Verão, quando toda a água das nascentes de Alcabideque ou do Ramo eram represadas para irrigar os campos da Atadoa, Valada ou Senhora das Dores, nunca no Inverno, com a água a sobrar por todos os lados.

O Rio do Cais é apenas uma afloração das muitas que acontecem no percurso daquela linha de água criada artificialmente (ou, pelo menos, alargada) para abastecer um grande número de engenhos. Só entre a Quinta de S. Tomé (agora Museu PO.RO.S) e a Ribeira, existiam cerca de 20 moinhos de grão e um lagar de azeite.

Na Rua Manuel Ramalho, ou, mais popularmente, na Rua da Água, por alguma razão assim designada, existe ainda um largo espaço de rio a descoberto, com grandes lajes de pedra a ladeá-lo para que as lavadeiras ali pudessem exercer a sua função. Depois, lá se esconde novamente para aparecer no Terreiro do tempo do velho palácio dos Sás, que já tinha sido queimado pelos franceses em  1811,mas mesmo abandonado pelos proprietários como habitação própria, não quiseram deixar de ganhar uns cobres reconstruindo alguns dos salões que transformaram em estabelecimentos de venda de produtos ao público e uma pensão. Em 1929 a autarquia deliberou transformar o charco em que se tornara a ribeira, num espaço agradável, e nasceu o Rio do Cais, que nunca foi cais de coisa nenhuma, a não ser dos “navegantes” vindos dos despejos sanitários a montante. Nesta altura já o acanhado Terreiro ganhara, com o fim da monarquia, o pomposo nome de Praça da República. Mas ainda acanhada, pois só no princípio da década de 1930 é que o palácio dos Sás foi demolido, aberta a Avenida e modernizado todo o Largo.

O Rio do Cais continuou a sua sina de Bazófias da aldeia: seco, no tempo de canícula, transbordante quando as águas eram fartas. O seu escoamento fazia-se por debaixo dos prédios que o afrontavam e por vezes entupia-se, transbordando. Tentaram-se várias soluções, mas nenhuma resultou, pois as diversas obras de reparação da estrada tinham acentuado o estrangulamento.

Então, a autarquia  decidiu interromper aquele curso de água, contorná-lo com um colector de suficiente calibre e acabou-se, definitivamente, a  função de rio. Na altura própria cheguei a alvitrar ao Eng. Jorge Bento, a colocação de uma conduta que aproveitasse a água constantemente esgotada do parque subterrâneo e que, sem consumo da rede, manteria um caudal, regulável, no Rio do Cais. A obra seria fácil de realizar, pois toda a Praça do Município e a própria Praça da República, estavam em obras e bastaria apenas colocar a tubagem necessária. Não foi aceite e, com isso, terminou-se também uma antiga tradição, a da colheita de água do rio, no momento da passagem do andor do Senhor dos Passos, água essa considerada milagrosa pelos crentes.

Ao cortar-se a água que abastecia o Rio do Cais, pretendeu-se fazer deste uma piscina, com a água em circuito fechado. Esqueceram-se porém que o leito é demasiado permeável e depressa seca.

Há, com certeza, alguma solução para esta situação. O rio (que já não o é!), não pode manter-se da forma que está, como depósito de lixo!


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