Cada vez é mais difícil posicionar uma mensagem política coerente e manter os níveis de popularidade em alta. Ou não será bem assim? Em 2015, os portugueses chamados a votar nas eleições legislativas elegeram aqueles que tinham governado sob a égide de um programa de ajustamento duro, onde a correcção da despesa pública foi um dos pontos-chave. Além desse facto, os efeitos colaterais sobre a economia privada foram igualmente nefastos e a taxa de desemprego atingiu valores acima dos 15 por cento.
Serve isto para voltar ao presente e perceber que depois do ciclo depressivo, a economia recuperou puxada pela boa conjuntura europeia, pelo turismo e pelas taxas de juro historicamente baixas. Perante isto, num quadro de governação influenciado pelos partidos de esquerda, veio à discussão pública a meta do défice para 2019 que, segundo o Ministro das Finanças deverá ser 0,7 por cento, portanto corrigida em baixa face ao inicialmente previsto, o que deixou alguns partidos a ameaçar que assim talvez não haja orçamento para 2019 aprovado.
O Ministro das Finanças também foi avisando que a conjuntura não se manterá assim para sempre e que será preciso preparar o País para tempos mais difíceis, de modo a evitar a repetição do episódio de 2009, onde a conjuntura internacional nos atirou para a beira do precipício. Ressalva: em 2009, o mesmo PS governava há 4 anos, sendo portanto, segundo o MF actual, obviamente o principal responsável pela falta de planeamento e ajuste que tivesse permitido evitar o desastre. Que eu tivesse dado conta, nenhum partido da oposição falou nisto, nomeadamente o PSD, o que me deixa preocupado. Em cima desta meta, discutiu-se o aumento dos funcionários públicos, coisa que até o PSD veio defender, posicionando-se estranhamente do lado esquerdo do MF que é quem manda nisto, no que a finanças diz respeito.
Eu também penso que é necessário melhorar as condições salariais dos funcionários públicos, mas, tal como os outros funcionários portugueses, deveriam trabalhar as mesmas 40 horas por semana, deveriam ter menos benesses em dias de férias, e, naturalmente, deveriam ter uma organização de Estado que permitisse beneficiar os melhores em detrimento dos que pouco contribuem. Mas, como a ideia é que todos são iguais, isso é algo impraticável que ninguém coloca na agenda, com princípio, meio e fim.
Perante isto, o cenário está confuso, a começar pelo Governo e pelos partidos que o suportam, a terminar no PSD que ainda está a acertar o discurso político. E enquanto isso, Portugal desespera para que haja responsabilidade e se percebam vários problemas. Primeiro, o nível de cativações é maior do que no tempo da Troika, o que faz com que o nível de investimento nos serviços públicos seja muito baixo. Segundo, as taxas de juro subirão inevitavelmente, o que faz com que a despesa do Estado aumente muito – hoje já é cerca de 8000 milhões de euros. Terceiro, a economia externa não vai crescer sempre como acontece agora. Ou seja, novo ciclo virá, sendo importante que o Estado se prepare para ele porque correndo mal, já sabemos que será a economia privada a pagar a factura, com despedimentos e ajustamentos que não são constitucionais do lado público.
Não, não quero entrar nesta dicotomia de público e privado, mas enquanto cidadão quero, melhor, exijo ter governantes e oposição que em vez de se “armarem” para a bancada popular, tenham responsabilidade e se lembrem sempre do que aconteceu há alguns anos. Tal como Mário Centeno fez, com todo o Governo e partidos a assobiar para o lado, a fazer de conta que não o perceberam.
Realmente, é mesmo preciso evitar a repetição de 2009!
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