Um século de vida dedicado à família e ao trabalho. Assim se pode resumir a vida de Minervina que completou 100 anos no passado dia 20 de Março. Com o passar do tempo, o cabelo foi ficando branco, as rugas apareceram e foi perdendo a autonomia, mas os anos não lhe levaram a lucidez, a simpatia e a alegria de viver. O seu maior desgosto foi a perda do marido, ficou viúva há 17 anos. Hoje vive na Unidade de Cuidados Continuados da Santa Casa da Misericórdia de Penela, todavia a sua vontade era voltar para sua casa, porém sabe que já não consegue viver sozinha.
Para conhecer toda a história de Minervina tem de se recuar até 20 de Março de 1918, quando nasceu na aldeia de Meãs, concelho de Miranda do Corvo. Viveu lá toda a sua vida, desde a infância e juventude passadas na agricultura e mais tarde na sua mercearia. “Sempre gostei de trabalhar e trabalhei muito”, contou ao TERRAS DE SICÓ, adiantando que “fazia o que era preciso para sobreviver”.
Contudo, os anos foram passando e trouxeram as limitações próprias da idade. “Hoje ainda tenho vontade de trabalhar e ajudar os outros, mas não consigo”, lamenta aquela centenária, que passa algum do seu tempo a costurar, a ler e a participar noutras actividades. “Mas ainda podia fazer mais, só não posso é das minhas pernas”, reconhece a recém inquilina da Misericórdia de Penela, frisando que o que gostava mesmo era de “voltar para minha casa e até estava lá melhor, não podia era estar sozinha”.
“A maior desgraça que me aconteceu foi ficar sem o meu marido”, confidenciou, recordando que “já estou viúva há 17 anos”. Mesmo assim “ainda tenho um rancho”, disse, referindo-se aos dois filhos, três netos e sete bisnetos.
Minervina já ultrapassou a esperança média de vida para as mulheres, que actualmente está nos 83 anos. Já atingiu a marca dos 100 anos e a sua idade chegou três dígitos. Ao longo de um século passou de tudo. “A minha vida teve bocados bons e bocados ruins”, contou, salientando que “foi sobretudo uma vida de muito trabalho, às vezes até privações, mas com saúde tudo se faz”.
Para ela, não há segredo para a longevidade. Porém, afirma que sempre teve uma alimentação saudável e foi uma pessoa muito activa, que gostava de trabalhar e ajudar os outros. “O segredo não sei, só Deus sabe, mas trabalho nunca me faltou e passei muitas privações nos princípios”. Apesar de não saber a fórmula para uma vida mais longa, lembra que “os comeres eram muito mais saudáveis, não era nada como agora, às vezes comem-se coisas sem jeito nenhum”. “Fazíamos o que fosse preciso para sobreviver”, referiu, salientando que “comecei a trabalhar logo que comecei a escapulir”.
No alto dos seus 100 anos, não tem dúvidas de que “as coisas melhoraram muito, mas mesmo assim preferia como era no meu tempo”. “Por um lado, os tempos hoje em dia são melhores, mas eu não gosto, há muitas coisas que detesto”, frisa, argumentando que as pessoas não dão valor ao que têm. “No meu tempo aproveitávamos tudo o que tinhamos, hoje desprezam as terras de tal maneira, esquecem-se que da terra é que vem tudo”. “Viver não custa, é preciso é saber viver e gastarmos menos do que o que ganhamos”, advertiu.
E como vai a sua saúde? “Não me posso queixar, não tenho grandes problemas e não tomo muitos medicamentos”. Aliás, “nunca gostei de tomar medicamentos e tento evitá-los ao máximo”, referiu Minervina, que apesar da idade avançada continua lúcida, activa, bem-disposta, sem demências e com uma saúde de fazer inveja a muitos bem mais novos que ela.
Há poucos dias completou um século de vida recheado de trabalho, dificuldades, privações e muitas alegrias. “Ainda não fiz as contas aos dias que eu ando ao cimo da terra”, constatou, certa de que “hão-de ser muitos, mas eu não quero fazer a conta, tenho medo que me dê azar, porque Deus pode ver que já chega e levar-me. E eu não quero, quero é continuar por cá”, concluiu.
CARINA GONÇALVES
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