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Acidentes voltam a questionar segurança no IC8 entre Pombal e Ansião

6 de Abril 2018

A Páscoa foi negra no Itinerário Complementar n.º 8 (IC8), com duas mortes no curto espaço de cinco dias, ambas no concelho de Pombal, levantando de novo questões sobre a segurança rodoviária naquela via, sobretudo no troço de cerca de 30 km entre Pombal e Avelar (Ansião).

Daniela Martins, de 19 anos, é a mais recente vítima do IC8, que “de IC só tem o nome”, como denuncia o comandante dos Bombeiros Voluntários de Ansião, Neves Marques.

A jovem, natural de Abiul (Pombal) e residente em Ansião, perdeu a vida ao início da tarde na passada segunda-feira (2), na sequência da colisão frontal do automóvel em que seguia sozinha com outra viatura, ao km 55, em Lagoa das Ceiras, na freguesia de Abiul. Do acidente resultaram ainda ferimentos graves numa outra mulher de 32 anos que viajava acompanhada do marido e de uma criança.

Terminava assim de forma trágica o período pascal nas estradas nacionais, na qual a habitual operação da GNR registou quase mil acidentes, com seis mortos e 19 feridos graves.

De resto, a primeira vítima mortal anotada na referida operação também aconteceu no IC8. Na quinta-feira, 29 de Março, ao fim da manhã, na ponte sobre a Ribeira de Carnide, na localidade de São João da Ribeira, na freguesia de Almagreira, uma colisão (mais uma!) entre um veículo ligeiro e um pesado de mercadorias foi fatal para uma mulher de 71 anos, da zona de Lisboa. O automóvel incendiou-se com a condutora encarcerada, impossibilitando o socorro à vítima, que ficou carbonizada.

“Não se faz nada”

O IC8 tem um traçado de quase 120 km, entre as auto-estradas A17, em Outeiro do Louriçal (Pombal), e a A23, perto de Vila Velha do Rodão, mas é no troço de 27 km, entre Pombal e Avelar (Ansião) que se tem registado a maior e mais grave sinistralidade. Porquê? Fomos procurar respostas junto de quem tem testemunhado, ali no asfalto, horas de dor e muito sofrimento: os comandantes dos Bombeiros de Ansião e Pombal.

“O IC8, entre Avelar e Pombal, de IC só tem o nome, não passa de uma estrada nacional – a 237 –, onde põem umas placazinhas a dizer IC8”, critica Neves Marques, comandante da corporação de Ansião, explicando que o atravessamento da via, e as faltas de cruzamentos desnivelados e de faixas de ultrapassagem não são consentâneas com a classificação de itinerário complementar. O “traçado sinuoso em alguns locais, com curvas acentuadas” também é referenciado por aquele responsável.

Neves Marques lamenta que os pontos negros estejam sinalizados “há muitos anos e vão mudando pessoas, governos e entidades e não se faz nada”.

“O IC8 merecia mais atenção, merecia que fossem sinalizados alguns pequenos troços pelo perigo e pelo índice de sinistralidade que apresentam”, sustenta o comandante dos Bombeiros Voluntários de Ansião, atribuindo parte da responsabilidade dos acidentes a condutores que arriscam na velocidade em curvas que são perigosas e em ultrapassagens nos curtos espaços de traço descontínuo.

Muito trânsito

Por seu turno, o comandante dos Bombeiros Voluntários de Pombal defende que “a estrada devia ser melhorada para o muito trânsito que tem”, mostrando-se convicto que a alta sinistralidade se fica a dever ao tráfego intenso.

Paulo Albano lembra que “os acidentes mais graves nem são em zonas de curvas, mas sim em rectas, a maior parte colisões frontais”, pelo que a colocação de separadores centrais poderia ajudar a diminuir o número de ocorrências.

Quase todo o traçado de perto de 30 km é “crítico”, mas “as zonas da antiga recta da lixeira, à chegada a Pombal, e dos Ramalhais” são, no entender daquele comandante, os pontos de maior perigo.

Conhecedor dos acidentes “bastante graves” de que o IC8 tem sido palco, Paulo Albano apela aos condutores para que redobrem a atenção e reduzam a velocidade.

Também o comandante dos Bombeiros de Ansião alerta os automobilistas para os cuidados necessários numa estrada que “pelo seu traçado torna-se perigosa”. “É preciso ter muita atenção à sinalização existente e aos excessos de velocidade”, aconselha.

“Estes acidentes no IC8 são muito violentos e, em meu entender, devem-se à acção do homem sobre a máquina”, frisa Neves Marques.

O TERRAS DE SICÓ questionou a Infraestruturas de Portugal, empresa pública que gere a rede rodoviária, sobre se está prevista (e quando) alguma intervenção neste troço, mas ainda não obteve resposta.

Ainda pode ficar pior

O estado em que se encontra o IC8 no problemático troço entre Pombal e Avelar (Ansião) pode vir a agravar-se. A preocupação é expressa ao TERRAS DE SICÓ pelo comandante dos Bombeiros Voluntários de Ansião. “A Ascendi deixou há poucas semanas de ter a concessão desta parte da via, pelo que temo que se vá deteriorar muito mais o que é a manutenção e conservação deste troço, que corre o risco de ficar ao abandono, porque o Estado, às vezes, descura um pouco estas coisas”, alerta Neves Marques, exemplificando já com sinalética e railes danificados que não têm a necessária reposição.

LUÍS CARLOS MELO


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