Quem gosta de café, gosta porque gosta.
O café, produto antigo feito, ou não, de várias misturas moídas, nem sempre foi o que hoje é. Aquela chávena pequena cheia ou não, de um líquido negro, com espuma no cimo pode ser apreciada de muitas formas: com leite, com natas, com açúcar, sem açúcar, curto ou cheio. Uma tremenda variedade de formas e gostos de o apreciar.
Eu gosto sem açúcar e assim fico com o sabor só do café.
Nem sempre foi assim.
Antigamente muito antigamente comprava-se o café sem medida mas por conta do dinheiro que se tinha. Cinco tostões de café, que de café teria pouco. Mas sabia bem.
A Ti Emília, mulher franzina, viúva, a morar com um gato amarelo, fazia-o ao lume. Punha uma trempe e a cafeteira em cima, cheia de água mas com alguma borra no fundo, pois assim chegava para mais tempo, pensava ela. Onde iam as borras não ia café. Quando a água fervia, tirava de cima das trempes, colocava a cafeteira no chão e uma ou duas colheradas de pó. Depois uma brasa acesa lá para dentro e o café assentava mais depressa. Forma higiénica de fazer a bebida que melhor gostava.
Nem sempre se colocava a brasa da lareira.
Havia um saco em forma de barrete que “ passava” o líquido que seria tudo menos café. Mas era bom.
Em dias de chuva, sentada num banquinho pequeno, à lareira sorvia uma caneca cheia, quase um caldeirão, com um pedaço de broa. E se por acaso ainda por lá tivesse umas petingas fritas, a satisfação ainda era maior.
Conheci, mais tarde o café feito numas máquinas de vidro. Tinham o balão por baixo, um filtro e por cima um outro balão aberto onde o café subia por força de uma lamparina de álcool.
A dona da casa é que se ocupava da tarefa. Não tinha grande confiança nas pessoas que a rodeavam. O café era caro. Se se entornasse era um desperdício e os vidros da máquina difíceis de comprar, também pela mesma razão: eram caros. Aquela cerimónia dava ideia a uma torre de vidro. Parecia uma cena do alquimista.
O sabor do café foi melhorando.
Mas o café era quase só das mulheres. Não era bebida de homens. Só mesmo em casa e no fim das refeições é que os homens considerados ricos bebiam.
Nas festas da minha aldeia e arredores umas quantas mulheres arrumavam uma mesa com uma toalha às flores, um fogareiro e vendiam canecas de café, com açúcar amarelo tirado de um púcaro meio manhoso, quanto à limpeza. Faziam isto na rua.
Eram as botequineiras. As pessoas da minha idade devem-se lembrar, ainda.
Vendiam, também filhós, e uma bebida a que chamavam de caramelo. Torravam açúcar até fazer caramelo, misturavam com água e vendiam em copos grandes com cascas de limão. Também vendiam pinhoadas.
O café, hoje é vendido em pacotes de marca e em grão. Torrado em fábricas e máquinas próprias.
Havia um senhor, que ia ao café Império (todos os cafés se chamavam assim). Pedia um café e deitava açúcar quase até ao cimo da chávena. Ainda se utilizavam os açucareiros Bebia o líquido negro pelo pires e depois comia o açúcar à colherada. Era conhecido por isto. Toda a gente gozava com ele mas não se importava. Fazia sempre o mesmo.
Como isso se modificou tudo!
Hoje toda a gente se delicia com esta bebida e por vezes mais que um por dia.
É considerado barato e em certas ocasiões pode considerar-se um ritual.
Em boa companhia:
– Venha aí um cafezinho.
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