O Espinhal mantém as tradições da quadra festiva pascal, “serrando a velha” este sábado (17) e queimando “Judas” no domingo de Páscoa (1 de Abril), em iniciativas dinamizadas pela Sociedade Filarmónica local, esta última em parceria com a junta de freguesia.
Para que a memória não apague vivências de outros tempos, a Sociedade Filarmónica do Espinhal tem metido mãos à obra e recriado várias tradições ao longo do ano.
Os tempos da Quaresma e da Páscoa têm servido para dar corpo a dois desses costumes, estando um terceiro na calha.
Assim, já para este sábado (17), a partir das 21h00, a Casa da Cultura (antiga Casa do Povo) recebe a “Serração da Velha”, uma tradição do período da Quaresma ainda hoje recriada em várias localidades portuguesas e brasileiras, para onde terá sido levada pelas nossas gentes.
No passado, “serrar a velha” era coisa de homens. Pelas ruas, transportavam um boneco feito de pano, simbolizando a “velha”, entoando um “Serra a velha, Serra a Velha…” enquanto eles próprios “denunciavam” eventuais defeitos ou posturas menos próprias às mulheres escolhidas para os desaforos. Outros tempos.
Hoje, a tradição é apresentada de forma menos cáustica. Pelo menos, no Espinhal assim acontece. A “velha” agora é a própria localidade e o deambular pelas ruas deu lugar a uma sessão, qual representação teatral, onde os textos críticos vão sendo alterados de ano para a ano.
“Fazemos uma paródia à Serração da Velha, com alguma adaptação do texto à actualidade e a preocupação de não ofender ninguém. Há sempre coisas novas a encaixar e um sentido crítico, mas sem ofensa”, explica José Antero, maestro da Sociedade Filarmónica do Espinhal.
A iniciativa, que no passado constituía um aliviar da carga pesarosa da Quaresma no ritual cristão, integra mais uma vez este ano a programação do evento “Inverno Cultural”, promovido pela Câmara de Penela, contando com a participação da Sociedade Filarmónica do Espinhal, Associação Quinta das Pontes e grupo Ou Vai ou Racha.
Duas semanas depois, em Domingo de Páscoa outra tradição é recriada, com a Junta de Freguesia e a Filarmónica a juntarem esforços para manter viva a “Queima do Judas”, o apóstolo-traidor, que reza a história se enforcou depois de ter “entregado” Jesus Cristo.
É esta encenação que é representada na tarde no próximo dia 1 de Abril. Um boneco, uma espécie de espantalho agrícola, embora “este ano com uma indumentária mais profissional”, simboliza Judas Iscariote.
Na manhã de Domingo de Páscoa, a figura é exposta na Praça da República, para à tarde, a partir das 15h00, ser transportado numa carroça, puxada por um burro, até ao Largo da Feira, onde é “queimado em praça pública”. O cortejo percorre algumas ruas da vila, acompanhado pela Sociedade Filarmónica do Espinhal, anunciando à população a “condenação” do apóstolo. Já no Largo da Feira, “Judas” é pendurado num plátano, simulando o seu enforcamento, e finalmente queimado perante todos aqueles que ali acorrem para presenciar um momento marcante das tradições locais.
Pelas 16h00, a Casa da Cultura acolhe as actuações da Filarmónica e do seu Coro Carlota Taylor, num espectáculo que todos os anos assinala mais um aniversário da reactivação daquela banda.
José Antero partilha a mesma opinião do presidente da Junta, Luís Dias, sobre o interesse em manter a recriação de costumes de outrora. “Independentemente da adesão, que é importante e um estímulo para que faz, sou defensor de manter a todo o custo estas tradições, senão desaparece tudo”, refere o maestro da Sociedade Filarmónica do Espinhal, empenhada também em reavivar este ano, na Semana Santa, o “Bradar às Almas”.
“É um texto entoado, muito monótono, com dois grupos em ruas diferentes, cantando pelas almas. Tem um sentido muito religioso e era bastante vivido nesta terra há alguns anos”, conta José Antero sobre outra tradição a reabilitar dentro de dias e que há algum tempo estava esquecida.
O maestro enfatiza que a Filarmónica, com 135 anos de história, além da música, tem mantido a recriação de tradições como o Cantar das Janeiras, Serração da Velha, Queima do Judas ou desfile de Carnaval à portuguesa, para que estas continuem a perdurar na memória dos nossos dias e o tempo não as apague.
LCM
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