10 de Setembro de 2024 | Quinzenário Regional | Diário Online
PUBLICIDADE

PAULO JÚLIO

A “coragem” de andar para trás!

7 de Fevereiro 2018

A reorganização do território que levou à diminuição de mais de 1.100 juntas de freguesia, em 2012, foi um processo duro em que quase todos protestaram e muitos, num determinado momento, apelidaram de impossível.

Foi  sobretudo um processo político em que era difícil falar para lá dos então responsáveis autárquicos, que deixou marcas emocionais porque as pessoas pensavam que eram os cargos e não se conseguiam distanciar. Dois actos eleitorais depois, a situação é bem diferente. Desde logo, que é o que mais importa, as populações não só não notaram nenhuma falta especial como em muitos casos identificaram ganhos de eficácia. Há estudos sobre o tema que têm um traço comum de que, afinal, a reorganização, salvo raras excepções, trouxe benefícios. Aliás, como sempre defendemos mesmo quando estávamos quase sozinhos.

É pois com espanto que constato que o Governo se prepara para abrir o processo de reorganização do território, embora as declarações da tutela sejam vagas e pouco firmes nos objectivos. Não sei se é mais uma assistência ao Partido Comunista, ou uma cedência ao lobby de alguns, mas é, em qualquer caso, mais uma prova que se trata de um Governo que não só não reforma como dá sinais em sentido contrário. Num assunto em que não há o menor interesse público, o Governo enche-se de coragem para agradar a meia dúzia de pessoas que se comportam como filtros do povo em vez de seus representantes.

No sector das autarquias vai-se fazer uma afinação na lei das finanças locais em quatro anos de mandato. E, claro, abrir a caixa de pandora da reorganização do território, provavelmente a reboque do PCP. Não há tempo para uma nova lei eleitoral, nem tão pouco para a voltar a discutir, melhorando processos e a democracia local. Não há tempo para encomendar estudos sérios sobre a reorganização de funções dos municípios, CIM e Áreas Metropolitanas, a nenhuma Universidade ou a várias, aproveitando o tempo que dispõem, para além de distribuir umas benesses. Não há tempo para nenhuma estratégia reformista, a não ser reagir.

Este Governo é um caso sério de estudo. Como é possível ter os indicadores de votação acima dos 40 por cento, em várias sondagens, quando sectorialmente, a educação, a saúde,  as florestas, a administração interna, a defesa, são desastres de gestão? A explicação que encontro é a retórica bem conseguida, a experiência política do PM, a manifesta ajuda do PR na conciliação dos cidadãos com os políticos, cujo principal beneficiário de curto prazo é quem governa, e, finalmente, o crescimento económico com repercussões na descida da taxa de desemprego, apesar de todos sabermos que esse é um mérito que advém sobretudo da procura externa e do bom momento conjuntural que a Europa atravessa, apesar de vicissitudes políticas locais.

Ora, por estas razões é que o Governo deveria reformar, melhorar os serviços, focar-se nos cidadãos, ao invés de abrir assuntos que não trazem benefícios. Pode ser que um dia destes, a sorte termine e a imagem se parta porque não é possível escapar sempre entre os pingos da chuva.


  • Director: Lino Vinhal
  • Director-Adjunto: Luís Carlos Melo

Todos os direitos reservados Grupo Media Centro

Rua Adriano Lucas, 216 - Armazém D Eiras - Coimbra 3020-430 Coimbra

Site optimizado para as versões do Internet Explorer iguais ou superiores a 9, Google Chrome e Firefox

Powered by DIGITAL RM